Escrevo-te de outra vida, pois estou morto de desgosto.
O papel é de matéria extraterrena, pois não existem mais árvores.
O papel está colado na parede, em branco, para uma emergência.
Escrevo-te com as pontas dos dedos, como se tocasse piano.
Cada letra é uma nota silenciosa, as suas junções são campos harmônicos.
Decidem o bem querer, a desilusão e a distância feliz.
Não existo mais. O que vê é a sombra do que sempre quis e nunca acreditou.
A felicidade é o que você não entende.
Escrevo-te imóvel, pois o frio de meu peito, congelou o resto de meu corpo.
Cabisbaixos, meus olhos pingam pelo que é cinza.
Não mais respiro, pois só sentia o odor de sua alegria.
A poeira esverdeada sobe em minhas narinas como formigas se protegendo da chuva.
Nada mais tenho. O que acha em minha antiga morada, deve ser comido pelas traças.
Se lhe perguntarem quem eu fui, diga que não me conheceu, pois esta é a verdade.
Não chore agora, causam náuseas em passeios gramáticos.
A democracia é virtual, só ela agora, consegue fazer-te ouvidos.
Pense bem em querer remeter essas linhas, pois as respostas que deseja estão nas suas.
Tenha paciência para repertir este contato, irá fazei-lo pelo resto da vida.
Só cresceu o que plantaram em você, nunca mordidas revigorantes lhe antenaram.
Escrevo-te mais uma vez, da morte, porque agora sei o que acontece.
Não procure sossego em um palheiro.
E não pense que não irá olhar em minhas retinas. Porque você não percebe minha morte.
Escrevo-te quase implodindo de constança, porque agora conheço o valor de uma tempestade.