os que não são nossos



A saudade, sentimento abrasileirado, apimentado e tingido, tem me causado muitas disfunções. Sentimos fora de hora, fora de cena, fora do contemporâneo e erronêamente fora até do ciclo de pessoas que nos são queridas. Confundo ao me amalgamar aos conceitos de saudade e de pessoas queridas. Ora, afinal, se sinto saudades, logo são queridas estas pessoas. Como posso sentir aquilo que ainda não vi, ou que jamais vivi... Ou simplesmente idealizei. Sou um sonhador, um invencionista utópico, tentando criar interpretações para um possível vida feliz, um mundo quase fantástico. Pessoas que quando caio no infeliz real, percebo que nem ao menos aprendi sobre os seus gostos básicos, seus interesses ou até mesmo se fui assunto interessante para elas. Vale apena sentir este real? Prefiro a ilusão de grandes amores, maravilhosas pessoas, sonhos calorosos. As fotos de um juventude que esteve longe de mim e ainda assim, creio em uma aproximação um dia desses e ser também, tema contagiante para essas imagens, desconhecidas mas verdadeiramente empolgantes, vivas. A saudade é cor clara, que nos ofusca sempre, as vezes rigida como um punhal, as vezes refrescante como uma gelatina. Sinto vontade de morder a saudade, agarrá-la pelos dentes e fazer dela um guia feroz para o outro lado: o reencontro, a satisfação, o amor novo. Ela é como um mutante que ao te contaminar, cria tentáculos que ao corte de um, cria-se o dobro. O irreal se faz presente mais que o real. O real não te deixa saudades, apenas aprendizados, as vezes magoas e infinitas ligas siamesas de afeto tenro. O incrível, é que a saudade irreal, imaginária, não para de crescer, de me consumir, de me enganar, de me fazer sacrificar gloriosos minutos, apenas refletindo porque não estou lá e cá, bem e bem quisto.

3 comentários:

Tatiana Rodrigues disse...

Saudade do que nem chega a ser passado,do que almejamos para o futuro, mas que o presente faz mudar o norte. Por amor às causas perdidas, à luta pelo amor ilusório e a invenção do momento fantástico... sentimentos paradoxais e uma reflexão sem conclusão final...

Mau. disse...

Pessoas como nós(?), que esperam intensidade da vida, que almejam VIVER e não sobreviver, que não se completam com artifícios por mais que uma pequena e limitada parcela de tempo, frequentemente se machuca com os espinhos de dores invisíveis aos demais, e se conturbam constantemente tentando fugir da realidade intensa que queima por dentro, louca para sair e encontrar companheiras..

Anônimo disse...

"Prefiro a ilusão de grandes amores", você me encanta!!!é realmente melhor viver no nosso mundo ideal do que no real.